terça-feira, 28 de junho de 2011

Diálogo de Vultos

deita-te nua de ti
no mármore frio do meu corpo
teus olhos fechados sobre o eclipse dos meus.

seca os teus lábios
nas feridas dos meus
e deixa-te estar quieta:
até as palavras passarem
até as sombras se calarem
e o nosso amor silenciar de vez
este diálogo de vultos.

[Fernando Ribeiro]

sexta-feira, 24 de junho de 2011

quarta-feira, 15 de junho de 2011


amo-te.

Resposta a Emile

(...)

no fim do corpo em que me escondo espalhou-se
a treva onde
guardo a corola azulínea de tua ausência

e o marulho nítido de um mar que canta
e um calor sísmico nos lábios que beijaste

é-me difícil continuar a escrever-te
o que me destrói - sei que estou fodido
e tu já não és meu

preparo-me para entreabrir os olhos e
deixar escorrer a convulsão oleosa das lágrimas
e das coisas tristes.

[Al Berto]

terça-feira, 7 de junho de 2011

não quero ter a terrível limitação de quem vive apenas do que é passível de fazer sentido.
eu não: quero é uma verdade inventada.

[Clarice Lispector]

quarta-feira, 1 de junho de 2011

No Silêncio dos Jardins

se um dia regressares, a terra estremecerá na memória de tua ausência. e a água formará um vasto oceano no outro lado do teu olhar.
regressarás, talvez, quando o ar se tornar rubro em redor do meu sono - e o lume das horas, a pouco e pouco, saciar a boca que clama pelo teu nome.
encontrar-nos-emos nas imagens deste jardim de afectos e ódios. porque os jardins são labirínticas arquitecturas mentais, onde podemos resguardar os corpos de qualquer voragem do tempo.
por isso, enquanto não regressas, construo jardins de areia e cinza, jardins de água e fogo, jardins de répteis e de ervas aromáticas, jardins de minerais e de cassiopeias - mas todos abandono à invasão do tempo e da melancolia.
mas se um dia regressares, passeia-te por dentro do meu corpo. descobrirás o segredo deste jardim interior - cuja obscuridade e penumbras guardaram intacto o nocturno coração.

[Al Berto]