"(...) dizem as velhas da praia que não voltas... são loucas, são loucas!!"
quarta-feira, 29 de dezembro de 2010
(...)
que horas serão para lá deste século?
onde estaremos neste momento?
estarei eu em ti ou serás tu que me devoras e me comoves?
... teu nome, pronuncia teu nome para que seja impossível esquecer-me do meu. diz-me o teu nome de ontem, quando éramos o reflexo exacto um do outro. toca-me o rosto com o teu nome, ou pousa-o sobre as mãos; debruça-te para dentro de mim e deixa que o segredo do tempo fulmine os ossos.
[ Al Berto], in "O Medo 3"
domingo, 26 de dezembro de 2010
sábado, 25 de dezembro de 2010
Truque do Meu Amigo da Rua
ao acaso encontrei-te encostado a uma esquina
olhar vazio varrendo a multidão, parei
sorri e tu vieste, fomos andando
os ombros tocavam-se, em direcção a casa
pediste-me para tomar um duche, eu deitei-me
ouvi o barulho da água resvalando pelo teu corpo sujo da cidade e de engates
sujo pelos dias e noites e mais dias que não tive
esperei-te deitado, outro cigarro
e ainda espero
gosto dos corpos que riem, frescos
rasgam-se à ternura nocturna dos dedos, e ao desejo
húmido da boca, que sempre percorre e descobre
olhar vazio varrendo a multidão, parei
sorri e tu vieste, fomos andando
os ombros tocavam-se, em direcção a casa
pediste-me para tomar um duche, eu deitei-me
ouvi o barulho da água resvalando pelo teu corpo sujo da cidade e de engates
sujo pelos dias e noites e mais dias que não tive
esperei-te deitado, outro cigarro
e ainda espero
gosto dos corpos que riem, frescos
rasgam-se à ternura nocturna dos dedos, e ao desejo
húmido da boca, que sempre percorre e descobre
tacteio-te de alto a baixo
reconhecendo-te num gemido que também me pertence, no escuro
contaste-me uma improvável aventura de tarzan, ouvia-te
e no silêncio do quarto fulguravam aves que só eu via
sorri ao enumerar os restos que a manhã encontraria pelo chão
manchas de esperma, ténis esburacados, calças sujíssimas, blusão cheio
de autocolantes,
contaste-me uma improvável aventura de tarzan, ouvia-te
e no silêncio do quarto fulguravam aves que só eu via
sorri ao enumerar os restos que a manhã encontraria pelo chão
manchas de esperma, ténis esburacados, calças sujíssimas, blusão cheio
de autocolantes,
peúgas encortiçadas pelo suor
as cuecas rotas, sujas de merda
e tuas mãos, recordo-me
sobretudo de tuas mãos imensas sobre o peito
teu corpo nu, à beira da cama, no sossegado sono.
as cuecas rotas, sujas de merda
e tuas mãos, recordo-me
sobretudo de tuas mãos imensas sobre o peito
teu corpo nu, à beira da cama, no sossegado sono.
[Al Berto], in "O Medo"
domingo, 19 de dezembro de 2010
(...) e tudo, tudo assim me é conduzido no espaço
por inúmeras intersecções de planos
múltiplos, livres, resvalantes.
por inúmeras intersecções de planos
múltiplos, livres, resvalantes.
é lá, no grande Espelho de fantasmas
que ondula e se entregolfa todo o meu passado,
se desmorona o meu presente,
e o meu futuro é já poeira. (...)
que ondula e se entregolfa todo o meu passado,
se desmorona o meu presente,
e o meu futuro é já poeira. (...)
[Mário de Sá Carneiro], in "Manucure"
sexta-feira, 17 de dezembro de 2010
quinta-feira, 16 de dezembro de 2010
as palavras existiram e foram um eclipse.
Foto: Manuel Madeira
(...) e no fim dos passos encontraram-se. Sentados sobre as camas de ferro dos seus quartos, lembraram-se: encontrámo-nos. Naquele dia, perante a imagem verdadeira um do outro, sentiram: encontramo-nos. No rosto dele, a esperança. No rosto dela, mais do que a esperança. Encontramo-nos. Encontrámo-nos. Encontraram-se. Foi ele que caminhou a distância pequena que ainda os separava. Foi ele que estendeu os braços. Ela baixou o olhar entre o seu corpo imóvel e a terra. Os braços dele sem uso. As palavras formaram-se dentro dela. As palavras aproximaram-se dos seus lábios. No silêncio, entre os seus rostos, as palavras existiram e foram um eclipse. (...)
[José Luís Peixoto], excerto de "Ao Adormecermos Eternamente" in Antídoto
[José Luís Peixoto], excerto de "Ao Adormecermos Eternamente" in Antídoto
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