quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

as palavras existiram e foram um eclipse.

 Foto: Manuel Madeira


(...) e no fim dos passos encontraram-se. Sentados sobre as camas de ferro dos seus quartos, lembraram-se: encontrámo-nos. Naquele dia, perante a imagem verdadeira um do outro, sentiram: encontramo-nos. No rosto dele, a esperança. No rosto dela, mais do que a esperança. Encontramo-nos. Encontrámo-nos. Encontraram-se. Foi ele que caminhou a distância pequena que ainda os separava. Foi ele que estendeu os braços. Ela baixou o olhar entre o seu corpo imóvel e a terra. Os braços dele sem uso. As palavras formaram-se dentro dela. As palavras aproximaram-se dos seus lábios. No silêncio, entre os seus rostos, as palavras existiram e foram um eclipse. (...)


[José Luís Peixoto], excerto de "Ao Adormecermos Eternamente" in Antídoto

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